Quero deitar-me naquele jardim deserto, numa noite gelada, coberta pelo teu casaco, apenas a contar as estrelas.

04/04/11

Sabe amar-me com um só olhar

Fala baixo, sussurra-me ao ouvido, não deixes que mais ninguém ouça o que a tua voz diz, o que o teu coração sente.
Não contes este segredo ao mundo, não fales aos outros de nós. Eles não saberão entender a complexidade daquilo que nos une, aliás, ninguém, excepto nós, irá conceber a mais pequena ideia do quão complicado é segurar um amor e (re)acendê-lo todos os dias, como se fosse o primeiro, como se os ponteiros do tempo, esse maldito tempo, tivessem parado, como se a paixão afinal não se desgastasse nas suas barreiras, como se os limites da distância fossem indiferentes e não nos fizessem tantas vezes questionar o que nos roubou o coração e nos aprisionou a alma.
E mais ninguém precisa de saber o tesouro que encontramos no momento em que me cruzei contigo, em que os nossos caminhos se fundiram apenas num, porque como tu mesmo disseste «quando os nossos olhares se cruzavam não havia nada mais senão nós e uma enorme vontade de ter-te comigo, como se me faltasse um pedaço no meu coração e estivesse dentro de ti».
Portanto, guarda as recordações num cofre, fecha tudo a sete chaves e nunca as percas, nunca deixes que mais ninguém abra esse cofre e desvende os segredos, os segredos que mais ninguém sabe e que queremos manter assim, só nossos.
Guarda as recordações, guarda os fios do meu cabelo que tantas vezes levas embora e lembra-te que estarei sempre aqui para ti e nunca te negarei o que quer que seja, sempre te darei aquilo que tenho de melhor, sem pedir nada em troca, porque tu já és um presente, o melhor presente que o destino me podia ter oferecido.
Guarda as recordações, guarda o meu cheiro para que, por escassos momentos, sintas a minha presença ali, porque de alguma forma, de algum jeito, eu nunca te abandonar. E não te preocupes que o meu perfume se evapore na atmosfera, não percas tempo a tentar trazê-lo de volta ao cofre, amor, ele é, ele será sempre eterno pois eterno é tudo o que dura uma fracção de segundos e mesmo assim é inesquecível, irrepetível e que parece impossível, ainda que não o seja, realmente.
Guarda as recordações, guarda as minhas fotografias, se nos acontecer alguma coisa de mal, algo que nos arruíne e nos destruas, quando abrires aquela fechadura e te lembrares de cada traço do meu rosto que conhecias melhor que ninguém, saberás exactamente onde estarei, basta ouvires com atenção aquilo que mais nenhum ouvido consegue escutar, as palavras que mais ninguém consegue alcançar e tu vais sentir saudades, porque há algo em nós que nos liga.
Nos liga de uma forma forte, imutável, por um fio invísivel que não se rasga, não se rompe e não se desgasta com a erosão do tempo.
Afinal, aquilo que é realmente verdadeiro nunca volta, simplesmente nem chega a ir e por muitas vezes estivemos prestes a deixar-nos levar, a cruzar os braços, olhar o chão e dizer «basta» mas nunca o fizemos, nunca o concretizamos porque nós não somos assim, nós temos perfeita consciência de que aquilo que vivemos é demasiado raro para ser jogado fora.
Então amor, sê paciente, sê-o comigo, contigo, com o mundo. Sabe esperar, sabe aguardar, sabe ver o mundo num só abraço, sabe amar-me com um só olhar.
E tudo aquilo que eu peço é mais um dia contigo, um após outro, mais um dia cheio de ti, cheio do homem da minha vida!