Quero deitar-me naquele jardim deserto, numa noite gelada, coberta pelo teu casaco, apenas a contar as estrelas.

15/02/11

Tu sabes.



Pára.
Pára de uma vez por todas. Descansa só, tenta permanecer estagnado, pára.
Não forces mais o sorriso nem me beijes como se tudo estivesse bem, tudo estivesse no seu lugar.
Não finjas que o nosso conto de fadas está a decorrer sem precalços, pois, no fundo, bem dentro de ti, num lugar a que chamam vulgarmente de coração, tu sabes...
É como se nós estivéssemos a agarrar, cada um, uma das pontas de uma espécie de corda, é como se puxássemos os dois para lados diferentes, como se ambos quiséssemos coisas distintas, antagónicas, penso eu, e enquanto permanecemos neste jogo, sem finalidade alguma, não pensamos que, a qualquer momento, a nossa corda irá romper-se com brutalidade e iremos os dois, para direcções diferentes, para caminhos desiguais, para lados da vida opostos, sem qualquer resistência perante o cenário que nos foi criado, sem defesas que nos possam proteger dos estragos que o fim daquele que foi o nosso amor irá provocar.
Tu pensas nisto, á noite, quando as luzes se apagam, a porta bate, o silêncio se instala e percebes que estás sozinho? Tu não reflectes sobre aquilo que nos está a acontecer quando percebes que a tua cama é demasiado grande só para ti? Tu não achas e não temes aquilo a que as pessoas estão dispostas para nos fazer desistir daquilo que nos fez tão felizes? Quando olhas para dentro de ti, quando tentas perceber o turbilhão de sentimentos que se cruzam e interligam no teu interior, tu não vês que os nossos medos já não cabem no bolso e já não há como ignorá-los?
Diz-me, por favor, diz-me que não começas a pensar que talvez o teu lugar não seja comigo. É que é certo que de cada vez que desvias o teu olhar, evitando o cruzamento com o meu, começo a achar que essa ideia está a instalar-se e a ocupar a tua mente, levando para longe as boas recordações do nosso amor.
Diz-me que continuas com todas as certezas deste mundo de que é comigo que queres ficar, ainda que as dificuldades se vão erguendo cada vez mais altas, ainda que todas as pontes que vamos construíndo, de modo a unir os nossos caminhos sejam quebradiças, inseguras, características de viagens e caminhadas turbulentas.
Eu não quero desistir, sabes? Não quero parar agora que parecemos ter chegado tanto. Não quero largar-te e saber que não farás mais parte da minha vida. É simples e posso facilitar as coisas, posso dizer-te clara e especificamente aquilo que não conseguirás ler porque não se encontra escrito, aquilo que está subentendido, as chamadas entrelinhas. EU NÃO QUERO FICAR SEM TI!
Podias ser apenas mais um homem, é certo. Podias ser apenas mais um daqueles com quem nos cruzamos tantas vezes na rua ou com quem chocamos no supermercado.
Não contesto isso, podias ser apenas mais um, no meio de tantos outros, mas o que te torna diferente, o que te torna sagradamente diferente é o simples facto de seres tu e só tu o dono do meu coração.
Percebes o que te tentei dizer, o que te tentei fazer ver? Pára de me magoar, porque trata-se apenas disso quando queres fazer parecer que tudo está bem, já pensaste nisso?
Por favor, não finjas mais, tu nunca foste bom actor.

2 comentários:

  1. Cátia. Perfeito. Este texto da maneira que o descreves trouxe-me a angústia que ele transmite. Não tens noção. E eu que pensava que era impossível tu conseguires escrever assim, deste modo, mais e melhor. E cá vem este texto. Não tenho mais nada a dizer. Apenas: perfeito*

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  2. Obrigada por isto, obrigada por estes comentários.
    Gosto tanto meu deus! <3

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