Quero deitar-me naquele jardim deserto, numa noite gelada, coberta pelo teu casaco, apenas a contar as estrelas.

05/02/11

A porta aberta

Tens esta porta aberta e é assim que a vais encontrar de cada vez que a procurares, de cada vez que precisares de te sentar junto á lareira no conforto daquele que foi, outrora, o nosso sofá, naquela paz e calma, serenidade e quietude que foram, outrora, a nossa rotina. Rotina essa que tomou conta dos nossos corações e os aquecia, quer dizer, creio que talvez seja o amor que sentimos a aquecê-los.
Eu nunca percebi ao certo porque é que cheguei a casa naquele dia e te vi com as malas por uma mão pronto a dizeres-me «adeus.».
Eu nunca percebi ao certo porque é que metade dos nossos objectos já não estavam dispostos nos lugares onde permaneceram durante todos aqueles anos.
Eu nunca percebi porque é que queimaste as cartas, rasgaste as fotografias, esqueceste o tempo de convivência, de felicidade.
Ou tu não eras feliz? Ou todos os sorrisos e gargalhadas eram meras representações hipócritas vindas do homem que eu mais amava?
Diz-me que não eras feliz e faz-me acreditar nisso porque ninguém mente, ninguém encena, ninguém finge tão bem durante anos a fio.
Eu não sei se foi outra mulher que se atravessou no teu caminho e entrou no teu coração.
Eu não sei se foi a rotina que te fez cansar e querer saltar fora do barco.
Eu não sei se tu és apenas um homem sem escrúpulos que o que quer é ter todas na mão.
Depois da frieza, depois da crueldade com que me trataste naquele final de tarde, em que deixaste as chaves pousadas no móvel, eu percebi que vivi tempos e tempos com um desconhecido.
Percebi que a pessoa que se deitava ao meu lado todas as noites não estava a cuidar de mim, como eu julgava. Essa pessoa tinha acabado de me quebrar completamente e pior, eu podia ver na sua expressão que isso não lhe importava...
Mas eu sei, no momento foi a raiva a falar mais alto, foi a incredulidade a deixar-me perplexa, foram as lágrimas a formarem-se nos olhos, o nó na garganta que não desatava e a sensação de quem levou um soco no estômago.
Liguei-te vezes sem conta e nunca conseguiste atender-me nenhuma das inúmeras chamadas. Creio que não o fizeste porque não sabias o que haverias de me dizer, não encontrarias uma razão para teres mudado de rumo, teres alternado por outra rota, teres seguido outro caminho.
Enviei-te postais de «parabéns.» e de «bom natal» durante todos estes anos sem nunca ter obtido um simples «obrigado» e vivo após todo este tempo de ausência sem saber se algum dia voltarás, se algum dia sentirás vontade de o fazer.
O que é certo, é que me tornei em meros farrapos do amor que vivemos, tornei-me um fantasma que vagueia noite após noite pela casa na esperança de te ver entrar, com as malas por uma mão,
Na esperança de que me abraces e me beijes,
Na esperança de que me digas que nunca mais me vais deixar,
Na esperança de que cumpras as promessas que fizeste,
Na esperança de que voltes a ser o homem, o grande homem que eras, que estará algures adormecido em ti.
E deixo aquela porta aberta, dia após dia, na esperança de que voltes para mim, para ti, para nós.
E perguntam-me «Não te cansas de esperar por algo que nunca vai acontecer?». Não, quem ama não se cansa ainda que sejam meros sonhos, meros devaneios da nossa alma, do nosso coração!

2 comentários:

  1. Assim só pra te encher isto, acabei de ver este texto novo, mas comento amanhã ao final do dia ;)
    Vês? Um comentário a mais xD

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  2. Cátia e se eu te disser que enquanto lia isto um filme foi-se formando na minha cabeça e no final ficou lindo? Também não havia outra alternativa possível com tal texto :o
    Tens uma mais pequena noção que este texto está perfeito? Perfeito, Cátia! Não sei como o fazes, mas fizeste. E aqui está a prova. Mais que (a)provada!

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