Quero deitar-me naquele jardim deserto, numa noite gelada, coberta pelo teu casaco, apenas a contar as estrelas.

26/03/11

Eu sei.

Eu sei que este amor te está a quebrar completamente e que não te achas capaz de fazer seja o que for para consertar tudo isto. Eu sei que a tua vida está virada do avesso e que tu continuas a não te importar. Eu sei que tu vives, dia após dia, na esperança de que o telefone toque e que corres para atendê-lo na esperança de que seja ele. Eu sei que tu ainda vês aqueles álbuns de fotos a horas tardias. «Recordações que o tempo queimou», foi o que te disse uma vez quando te encontrei com elas espalhas pelo quarto. Simplesmente reviraste os olhos e aposto, aposto com todas as certezas que pensaste «Não sabes do que falas, não sabes o que sinto, és minha amiga mas não imaginas o que estou a passar.»
Mas tu esqueces-te que todas nós, sem excepção, sofrem desgostos como aquele que estás a sofrer. Todas nós somos deixadas de rastos por alguém a quem, nas suas mãos, tínhamos colocado a nossa vida. Custa, eu sei, mesmo que aches que nunca vou entender, que nunca vou fazer a mínima ideia do esforço que tens que fazer para te levantares todos os dias da cama em que ele já se deitou e ires para o duche que tantas vezes vos acordou, depois de noites de amor, noites de lindas estrelas brilhantes, como gostavas de lhes chamar nas conversas entre amigas, onde te exibias orgulhosa.
E eu sei que tu tens saudades dos braços dele, grandes e fortes, ao longo do teu corpo. Eu sei que todas as noites vagueias pela casa e te deparas com imagens, tão distantes, de momentos felizes que juntos viveram. Eu sei que choras até o sono te pegar e que a base já não é suficiente para disfarçar as olheiras. Eu sei que tu não queres acreditar e assumir que o vosso fim chegou. Eu sei que tu te olhas ao espelho e ainda vês a imagem dele, exactamente atrás de ti. Eu sei que tu ainda passeias pelo parque ouvindo as vossas gargalhadas como se fossem dois adolescentes, inocentes e inexperientes, mas com uma felicidade, um entendimento e uma cumplicidade de fazer inveja.
É incrível como as recordações ainda estão tão vivas na tua memória que, por momentos, tu achas que é real, que tudo está de novo no seu lugar e que ele faz parte da tua vida.
Eu sei que tu ainda abraças a almofada, nas noites frias e solitárias em que nada te preenche o vazio que se instalou. Eu sei que tu não consegues abrir mão de todas as lembranças que ainda se mantêm no teu sangue, como se nunca te tivessem abandonado. Eu sei que tu não és capaz de acabar este capítulo, fechares a capa e dar por encerrado este livro, iniciando outro. Outro mais puro, mais feliz, mais alegre, mais duradouro até.
O tempo vai suavizar tudo o que sentes, o tempo vai apaziguar-te a alma e sossegar-te  o coração, mas tens de colaborar, tens que fazer um esforço, por ti, por mim, por todas nós que ficamos em pedaços de cada vez que te desfazes em lágrimas por alguém que não mais voltará.
E eu sei que davas tudo para que ele o fizesse. Eu sei que subias a mais alta montanha e atravessavas o mais perigoso trilho para o teres mais um dia na tua vida. Eu sei que tu «vendias a alma ao diabo» em busca de poderes sentir os lábios dele junto aos teus.
Eu sei que o amas e pior eu sei que, enquanto mantiveres viva esta esperança, não vais fazer nada para mudar esse amor.

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