Pára. Senta-te nessa cadeira, põe os braços em cima da mesa e olha-me nos olhos, como não fazes há meses.
Fala de uma vez por todas, coloca as cartas, vira-as e explica-me, a mim e ao meu coração, aquilo que nos está a acontecer.
Por favor, discute comigo, eu estou a implorar-te para que discutas, para que grites, agarra-me por um braço e diz-me aquilo que te está a consumir por dentro.
Porque eu sei, se pelo menos discutisses é porque ainda havia algo para salvar. É disso que se trata não é?
Já não há nada, já não temos nem uma ponta daquilo que, um dia, já distante, nos uniu de uma forma imutável, pensávamos nós.
E eu consigo ouvir mesmo aquilo que não dizes, eu consigo sentir mesmo aquilo que não deixas transparecer, eu consigo ver aquilo que tanto escondes, aquilo que tanto encobres e embrulhas em teias de mentira, em que incluis, fazendo com que eu faça, dia após dia, parte de um teatro na qual eu não quero estar.
Acabaram-se as representações e eu estou a dar-te a última oportunidade e se abrires mão dela, eu juro que se esgota a paciência, a espera, até o amor.
Sê sincero, não revires os olhos, não encolhas os ombros como se não houvesse nada para resolver, como se tudo estivesse no devido lugar e como se eu não me apercebesse que as reuniões tardias não eram mais com clientes importantes.
E perguntam-me porque continuo a fingir que nada acontece? Dizem-me que nada me prende a ti, que eu tenho ainda uma longa vida pela frente e esquecem-se que foi a ti que entreguei a minha vida, que foi a ti que me dediquei todos estes anos, esperando pelo melhor e acreditando que o que nos está a suceder, só acontecia aos outros, aos que não se amavam. Mas eu amo-te e é isso que me mantém aqui.
Eu não posso desistir, não posso fazer as malas e ir-me embora como se nada meu houvesse em ti.
Não me importo que me vejas chorar, não me importo de despir a máscara de Super-Mulher, não me importo de implorar por só uma palavra, a palavra que te recusas a proferir.
E levantas-te, encostas a cadeira, olhas para o vazio em que se tornaram as nossas vidas e resignas-te a esta situação.
Eu podia ter-te deixado ir embora, podia ter-te deixado abrir aquela porta para a fechares 10 segundos depois mas eu tinha que dizer-te uma coisa, a última coisa.
«Devolve-me o meu coração, os estragos que nele provocaste sou eu que os terei que reparar e nunca mais deixo que voltes a fazer o mesmo.»
E foi a primeira vez que, em muito tempo, te deitaste sozinho nesta cama. E foi a primeira vez, em muito tempo, que soubeste o que era sentir a minha falta. E foi a primeira vez, em muito tempo, que, ali sozinho, voltaste a amar-me com todas as tuas forças.
Mas sabes, agora é tarde, agora é tão tarde, eu lamento.
Sem comentários:
Enviar um comentário