Partiste um dia...
Partiste sem me explicar porquê, sem longas demoras, sem verdadeiras revelações.
Partiste e fiquei destroçada a ver-te tomar o teu caminho, a contar os teus passos e a tentar arranjar forma de que o meu coração te dissesse «adeus».
E no fim de contas, esse tão esperado «adeus» demorou mais do que eu imaginava e acabei, acabei por cruzar os braços e por ficar a olhar-te por tempos indefinidos.
Acabei por me agarrar áquelas camisolas que ainda me faziam inalar o teu cheiro e ter umas enormes saudades de me deitar contigo, num lugar qualquer, coberta pelo teu casaco.
Acabei por guardar as fotografias que me traziam á memória cada traço do teu rosto, cada curva do teu corpo que eu já conhecia tão bem como a palma das minhas mãos.
Acabei por desvendar segredos e por enterrar outros, bem fundo, para que mais ninguém soubesse o tesouro que tínhamos encontrado quando as nossas vidas se cruzaram.
Guardei em mim todas as recordações de ti e se por um lado, a dor aumentava, as lágrimas corriam e o coração parava,
Por outro, saber que nós tínhamos existido, que tinha sido real e não apenas um sonho meu, era a melhor coisa que tinha sentido até então.
Saber que um dia, ainda que longínquo, me tinhas pertencido e tinhas estado ali comigo ao meu lado, tranquilizava-me e fazia-me por meros, por breves segundos achar que tudo ficaria bem, que tu ias voltar e que ias ficar, ias ficar para sempre.
E saber, saber que fui amada por ti trazia um sossego ao meu coração, que implorava por ti e por nós, a cada batida.
Saber que me amaste com cada pedaço de ti e que te entregaste a mim e a tudo o que vivemos fazia-me achar que ainda ias cumprir a promessa,
A promessa que me fizeste no barulho dos dias e no silêncio das noites, a promessa que me fazias todas as manhãs ao acordar e todos os dias ao adormecer, a promessa, a tua promessa
«Nunca te vou deixar»
E hoje, hoje não sei ao certo porque não a cumpriste, não sei ao certo porque a quebraste.
Mas acreditei, acreditei quando a fizeste e disse-te que tinha medo que te cansasses, ainda que me sussurrasses ao ouvido, vezes infinitas, que isso nem te passava pela cabeça.
É certo que não passava mas de um momento para o outro, começou a passar e essa vontade tão grande de seres só tu apoderou-se de ti, apoderou-se e fez-me ter que te largar na esperança que voltasses um dia.
E não faz mal que te tenhas cansado, não faz mal que te tenhas fartado, porque meu amor, não escolheste, não pudeste fazê-lo, mas não devias, não devias nunca ter prometido o que também nunca está garantido.
E eu estava aqui, exactamente no mesmo lugar, estática, á tua espera, á espera que decidisses que me querias e que querias tudo de novo.
E voltaste, voltaste imensas vezes e não ficaste.
Voltaste para mim e voltaste a ir. Isso destruiu-me, partiu-me o coração e feriu-me a alma de uma forma que nem eu, até hoje, consegui sarar.
Fizeste feridas em mim, mesmo antes de as que tinhas feito terem cicatrizado e magoaste-me, magoaste-me e fizeste-me cair bem fundo.
O meu corpo vai falecer, a minha alma vai chamar por mim até ao cair das noites mas o meu amor por ti,
Esse permanecerá intacto, intocável, inesquecível á distância e ao tempo que nos separa.
E se um dia, quiseres voltar provavelmente eu já não serei capaz de te estender os braços e de te segurar junto a mim.
E se um dia, correres para mim talvez eu te vire as costas e te deixe com o mesmo vazio no coração com que me deixaste a mim,
Talvez te deixe com o mesmo nó na garganta que não se desfez durante todo este tempo,
Talvez te deixe com a sensação de quem leva um soco no estômago e fica sem reacção.
Talvez, talvez dessa vez seja eu a ir, a fugir a perguntas, a evitar respostas, a calar o coração e a esconder o amor.
E tu, serás tu capaz de o continuar fazer também?
(Foi a melhor coisa que escrevi até hoje e obrigada porque apesar de tudo, meu menino, és a inspiração de todos estes textos)
"acabei por cruzar os braços e por ficar a olhar-te por tempos indefinidos"
ResponderEliminarCátia, tenho de te dar os parabéns! Esta analogia é perfeita! Adorei de verdade!!
Ó que rico mas gostei mais desta parte:
ResponderEliminar«Acabei por desvendar segredos e por enterrar outros, bem fundo, para que mais ninguém soubesse o tesouro que tínhamos encontrado quando as nossas vidas se cruzaram.»
A parte que gostaste está confusa :b
Também é bom, mas aquela analogia deixou-me completamente de queixo caído, rapariga!
ResponderEliminarSaiu-me assim, ó meu deus, eu admito, escrever é aquilo que mais gosto de fazer !
ResponderEliminar