Quero deitar-me naquele jardim deserto, numa noite gelada, coberta pelo teu casaco, apenas a contar as estrelas.

14/08/10

Imaginação...

Atirei-me de cabeça, rumo àquele poço sem fundo.
Sabia que seria difícil, talvez impossível, voltar ao cimo e retomar a minha vida mas naquele momento, pareceu-me acertado ir pelo caminho mais fácil.
Em vez de tentar contornar o poço, dei um passo em frente e atirei-me de cabeça para o lugar que me viria a (quase) destruir a vida e que me partiu o coração.
Não tentei agarrar-me ás coisas boas que tinha, achava que a aquele alguém que tanto me magoou merecia aquela queda, merecia todas as cicatrizes com que fiquei, aquelas que nunca saram, nunca fecham completamente, apesar de todos os nossos esforços.
Eu caí e tive pessoas a tentarem dar-me a mão, a tentarem levantar-me, a tentarem concertar tudo aquilo em que eu nem seuqer conseguia tocar.
No entanto, tive muitas pessoas a quererem que eu permanecesse no chão, para elas o meu sofrimento e as minhas lágrimas não lhes faziam qualquer diferença, até lhes alimentavam o ego.
E eu juro que ainda tentei por muitas vezes levantar a cabeça e retomar tudo que tinha deixado parado,
Tu vinhas, davas-me algum conforto, eu dava-te todo o meu carinho e tu ias embora.
E por mais uma vez eu ficava em farrapos, não conseguia sentir nada, ficava só a tentar adormecer, na esperança que o meu sono me levasse aquele sentimento.
Naquelas tuas vindas e idas, eu, inocentemente, ainda acreditava que querias voltar, que irias deixar tudo e correr de volta para os meus braços.
Idiota, aceitava-te de cada vez que te aproximavas sem perceber que a cada segundo ia descendo mais baixo no poço.
E bati, bati lá no fundo, e foi por onde eu fiquei durante TANTO tempo.
Estava toda a gente dizendo para subir, para erguer a cabeça, levantar o corpo e agarrar a mão deles porque nunca me iam largar, mas eu não fiz o mínimo esforço.
Continuei deitada no chão de terra batida, com o sabor da derrota na boca e com o coração quebrado em pequenos pedaços.
Todos se foram embora, cansaram-se de esperar e apenas disseram «Quando quiseres levantar-te, quando quiseres recompor-te terás que o fazer sozinha porque nós não podemos continuar a amparar-te queda após queda sem nunca te tentares levantar»
Foi talvez a única coisa que me fez ter dúvidas se aquela pessoa merecia de facto que eu perdesse tudo o que levou tanto tempo e conquistar, se ele merecia que eu deixasse tudo o que construí desmoronar-se á minha volta.
E naquele momento a frase «Todos caem mas apenas os fracos permanecem no chão» fez todo o sentido.
Eu não era fraca, nunca o tinha sido e não podia começar agora.
Depois de todos aqueles meses eu LEVANTEI-ME e saí de tudo com um sorriso no rosto, e sabem aqueles que diziam que não iam mais estar lá? Foram os primeiros a correr ao meu encontro e a dizerem-me que a partir daquele momento tudo seria mais fácil.
(...)
Já passou imenso tempo mas eu admito que ainda dói, ainda dói ter magoado todos os que apenas me queriam bem, ainda dói ter-me magoado a mim própria repetidamente.
Ainda dói saber que estive no fundo do poço, ainda dói saber que o amor não é só felicidade.
Não vou dizer que as feridas sararam e que as cicatrizes não são vísiveis, porque isso não corresponde á verdade.
Mas eu sei que um dia, um dia tudo isto serão apenas recordações do passado que me fez mulher.
E eu hoje sou Mulher, hoje sou feliz, hoje tenho quem cuide de mim e quem nunca me deixe cair.
E todas as lágrimas? Todas as noites sem dormir? Todas as quedas? Toda a dor? Todo o sofrimento? Hoje, isso não passam de danos colaterais.

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