Dizes que eu estou bem, que tudo está bem mas sabes, isso não corresponde á verdade.
Eu ainda me sinto deitada no chão, em pedaços.
Os pequenos pedaços em que me transformaste, depois das duras palavras jogadas na minha cara, depois dos longos gritos que quebraram o silêncio da noite.
Saíste porta fora com as malas por uma mão.
Para toda a gente as luzes da nossa casa naquela noite ficaram acesas, mas para mim estava mais escuro que nunca.
Não conseguia acreditar, não conseguia entender como uma discussão por tal ninharia viera desenterrar assuntos do passado, que para mim estavam enterrados e guardados naquele poço sem fim, das coisas em que preferíamos não remexer.
Dizes que eu estou bem, mas passado tanto tempo, eu ainda me sinto magoada, ainda sinto o meu coração total e completamente quebrado, ainda não juntei todos os bocados.
Por falta de coragem mas acima de tudo porque talvez essa dor ainda seja o mais perto que estive de ti, em tantos meses.
Sei que acabo por sofrer ainda mais por nem sequer tentar mandar esta dor embora, sei que me magoo a mim própria constantemente e pior sei que me culpo pela tua partida, constantemente.
Ontem á noite liguei-te.
Ainda que fosse uma imperfeita reprodução da realidade, o que me chegava aos ouvidos através dos fios que faziam a ligação entre o teu telefone e o meu, foi o mais verdadeiro e real que me chegou de ti, em tanto tempo.
Era a tua voz, a tua e de mais ninguém, era a tua respiração coordenada, os teus pulmões a encher e esvaziar do outro lado da linha e todo aquele combinar de simples sons que ainda me faziam estremecer e me faziam arrepiar.
Eu não conseguia pousar o telefone, sabia que a partir desse momento os ponteiros do relógio iam recomeçar a moverem-se e o meu coração iria voltar a bater e ia doer, eu sabia que ia.
«Quem é?», foi a única coisa que me disseste passado todos aqueles meses,.
Queria poder dar-te uma resposta, queria poder dizer-te que era eu, aquela que em tempos amaste, mas quando tentei fazê-lo a voz falhou-me, senti-me muda pelo sofrimento, tal e qual como naquela noite.
«Quem é?», a única coisa que consegui fazer foi abrir os lábios e ficar a olhar em frente, a minha voz tinha-se perdido tal e qual tudo o resto.
Eu conseguia ouvir a tua respiração do outro lado da linha, certa e coordenada, sempre a pressionar-me, a consumir-me e a desfazer-me a alma.
Ouvi um suspiro, o último suspiro.
A chamada caiu, o telefone caiu, as lágrimas caíram.
Eu juro-te que queria ter-te dito que era eu, a mesma que te aconchegava todas as noites, aquela que punha a água do chuveiro a cair para que quando chegasses pudesses tomar o teu banho quente, tal e qual como gostavas.
Eu juro-te que queria ter-te dito que era eu, a mesma que te acordava dia após dia com uma beijo, a mesma que te fazia rir com a falta de jeito para cozinhar.
Eu juro-te que queria ter-te dito que era eu, aquela que te amava incondicionalmente e aquela que te prometia ser sempre tua*
Sem comentários:
Enviar um comentário