Quero deitar-me naquele jardim deserto, numa noite gelada, coberta pelo teu casaco, apenas a contar as estrelas.

09/07/10

Doía...

Doía.
Doía e prontos.
Não sabia onde doía nem quando iria acabar...
Apenas sabia que aquela dor tinha aparecido quando ele disse «É melhor seguir cada um o seu caminho»,
Doeu quando ele virou as costas e ela ficou a vê-lo partir,
Doeu quando passaram duas horas e ele não voltava, o que tornava tudo definitivo.
Reuniu forças e voltou para casa.
Até ali não tinha chorado, estava incrédula e ainda não tinha assimilado toda a informação,
Mas enquanto ia para casa viu um casal, tinham os seus 80 anos e estavam sentados num banco de jardim, de mãos dadas.
Enquanto se olhavam, o mundo á sua volta tinha parado, tinham o amor estampado no rosto.
Ela só conseguiu pensar «Ele tinha-me prometido tudo isto»,
O azul dos olhos embaciou-se-lhe, as lágrimas rolaram pela sua cara, e ela seguiu o seu trajecto.
Quando chegou a casa, tinha a sua avó na varanda, sentada na sua cadeira de baloiço, a passar o tempo:
-Que se passou, minha Inês?
-Eu e o Pedro avó, acabámos-respondeu-lhe correndo para os braços dela.
Ficaram assim durante uns largos minutos...
A avó perguntou-lhe como se sentia.
-Dói, não sei onde, não sei porquê, mas nunca senti tamanha dor.
-Eu sei que dói minha querida, é a dor da alma, senti o mesmo quando o teu avô partiu, ainda que por motivos diferentes, eu consigo perceber-te, meu amor. Mas por vezes, os namoros não resultam, por vezes é mesmo preciso parar e seguir em frente.
-Mas o Pedro, avó, o Pedro fazia-me feliz, eu amo o Pedro.
-Talvez o destino ainda vos junte de novo, talvez vocês voltem a namorar.
-Eu preciso de estar sozinha.
Beijou ao de leve o rosto da sua avó e subiu para o quarto, fechou a porta, deitou-se na cama e chorou sobre a almofada, durante horas a fio.
(...)
Não sabia quando tinha adormecido e muito menos como o tinha conseguido fazer.
O luz causada pelo sol tinha-a acordado, ainda sentia a sua almofada molhada pelas lágrimas, aquilo fê-la despertar para o sucedido do dia anterior.
Desceu as escadas numa corrida e foi á cozinha.
-Mãe, alguém deixou algum recado para mim?
-Inês, o Pedro esteve cá, deixou as tuas coisas que tinha e deixou os presentes que lhe deste, pediu para fazer o mesmo.
Ela não chorou, acho que a desilusão era tanta que nem o conseguiu fazer, apenas pediu á mãe para arrumar as coisas dele e para deixá-las em sua casa, porque por ela nunca mais o veria na vida.
Voltou a fechar-se no quarto e jurou que jamais voltaria a chorar, mesmo que o amasse para toda a vida(...)

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