Quero deitar-me naquele jardim deserto, numa noite gelada, coberta pelo teu casaco, apenas a contar as estrelas.

31/01/11

As palavras doem.
As palavras magoam.
As palavras remoem-nos por dentro, ecoam-nos na alma, instalam-se em algum local fechado do nosso corpo e teimam em não sair, em não se apagar, em não se diluir.
Um estalo dói, deixa as marcas dos dedos, a delineação da mão. Um estalo traz tamanha força acarretada nele, traz raiva que voa em direcção á nossa face.
Mas trata-se apenas disso, daquele instante em que se sente o calor provocado pelo movimento bruto. No dia seguinte, acordamos e estamos exactamente iguais, não sentimos dor, não sofremos com isso.
As palavras não.
As palavras que se jogam fora magoam mais. Entranham-se em nós durante tempo infinitos e meses depois ainda conseguimos ouvir aquela voz, fria e má, firme e cruel, a gritar connosco, a jogar-nos na cara algo que tempos e tempos depois, ainda faz as lágrimas correrem e ainda nos faz sentir exactamente as mesmas sensações que havíamos sentido.
É como se tivéssemos levado um soco no estômago, o nó na garganta instala-se e não há forma de o desatar, queremos sair dali mas as nossas pernas não se movem. Ficamos perplexos e a pensar como alguém de quem tanto gostamos, de quem tanto cuidamos joga tudo fora e nos diz coisas que nos atingem certa e directamente no nosso ponto mais frágil.
É verdade, dói saber que as pessoas que mais nos magoam são aquelas que dizem que não o vão fazer, são aquelas que prometem o impossível, são as que dizem sentir o impensável mas no fim, no fim, acabam sempre por partir-nos o coração.

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